The Hundred Line: Last Defense Academy – Encanto para fãs, desafio para novatos

Kazutaka Kodaka, criador de Danganronpa, e Kotaro Uchikoshi, criador de Zero Escape: Virtue’s Last Reward, unem-se e combinam seus estilos para dar vida a The Hundred Line: Last Defense Academy, game publicado pela XSEED Games, e que é um visual novel que incorpora elementos de outros gêneros, como RPGs táticos, para proporcionar uma experiência capaz de atrair jogadores de fora da “bolha” dos visual novels. Será que eles conseguiram?
História (Sem spoilers)

Você, Takumi Sumino, é um estudante que leva uma vida tão monótona a ponto de se frustrar com ela. Morador de um complexo residencial, o protagonista nunca soube o que se escondia além das barreiras e sempre respeitou os estranhos toques de recolher, que soavam com uma frequência quase assustadora. Era um cotidiano sem emoção, mas tolerável graças à sua melhor amiga, Karua. Uma garota gentil, o tesouro que Takumi jurou proteger, que carrega um passado trágico e traumático que ainda a assombra, mesmo após anos do ocorrido.
Em um certo dia, essa vida pacata desmorona diante dos olhos do protagonista. Uma invasão misteriosa irrompe, criando caos no tranquilo complexo residencial. Desesperado para proteger quem ama, Takumi aceita um poder enigmático oferecido por um pequeno cavalheiro ainda mais misterioso. Esse poder, chamado Hemoanima, é um despertar de forças que se assemelha a uma transformação, concedendo ao usuário capacidades quase sobrenaturais, além de armas e armaduras.
De repente, após uma árdua batalha, o protagonista acorda em uma sala de aula misteriosa, cercado por outros alunos tão confusos quanto ele. É então que Hundred Days Last Line Defense começa de fato. A escola tem como objetivo formar a última linha de defesa da humanidade na luta contra esses invasores misteriosos.

Por ser um visual novel, a história do jogo se desenrola diante dos olhos do jogador, que tem o poder de decidir o rumo da narrativa, conduzindo-a a um dos muitos finais possíveis. O ritmo da narrativa começa frenético e se acalma com a introdução dos outros estudantes e da nova escola, o que é esperado, já que o jogo precisa transmitir uma grande quantidade de informações. O início tímido combina bem com a apreensão dos personagens, arrancados de suas realidades e colocados em uma missão tão crucial.
Cada personagem possui uma personalidade marcante e distinta, o que, naturalmente, dificulta a convivência inicial. Nesse ponto, o jogo pode parecer pesado, com pouco progresso narrativo. Contudo, à medida que a história avança e os personagens começam a se conhecer, a narrativa flui de forma mais dinâmica, tornando a experiência mais envolvente e agradável de acompanhar.
A aura de mistério nunca desaparece. É como se o protagonista vivesse em um pequeno casulo, que representa apenas uma fração de algo muito maior. Cada resposta fornecida pelo jogo gera ainda mais perguntas, mantendo o jogador em um estado de curiosidade constante e alimentando teorias. O roteiro sabe instigar a curiosidade com maestria. Assim, percebe-se os temas que o jogo deseja explorar, e ele os aborda com grande competência.
Arte

Sinto-me obrigado a começar este tópico exaltando a qualidade da animação das cutscenes, verdadeiramente um colírio para os olhos.
O jogo possui uma vibe mais sombria e não hesita em apresentar cenas impactantes. Os personagens são vibrantes e cheios de personalidade, como se cada um tivesse uma cor própria que não se mistura com as demais, o que os torna muito carismáticos, ainda que um pouco caricatos. E, como muitos já poderiam esperar ao ler o nome dos criadores, há a bizarrice. Seja na fisionomia, nas falas ou nas personalidades, ela está presente em tudo. Muitas vezes, o jogo apresenta elementos que deixam o jogador confuso, mas entretido, sempre buscando ir além.
Os designs transmitem exatamente a atmosfera que o jogo pretende criar: uma escola high-tech misteriosa com instalações excêntricas, personagens com estilos e dublagens que destacam suas características, criaturas estranhas e trajes descolados. A trilha sonora é fenomenal, funcionando como a cereja do bolo para construir a ambientação necessária, trazendo tranquilidade em momentos de socialização e intensificando a emoção em cenas de ação e tensão.

Quanto aos textos e ao roteiro, há opiniões divergentes. Eles são bem escritos, algo essencial para afirmar que o jogo tem, sim, uma boa história, e refletem fielmente as personalidades dos personagens. No entanto, há uma sensação, mais recorrente do que deveria, de repetição. Em muitos momentos, percebe-se que um diálogo poderia ter terminado em determinado ponto, mas é prolongado por falas irrelevantes que reiteram o que já foi dito, prejudicando a fluidez essencial para que um visual novel não se torne monótono. Um ponto positivo a destacar é o ótimo humor do jogo, que realmente diverte, aliado a diversas referências a outros jogos e elementos da cultura pop. Portanto, fique atento.
Gameplay

Diante de tudo o que foi mencionado, percebe-se que o jogo apresenta uma boa história a ser contada. Mas será que é igualmente envolvente para ser jogado?
O gênero visual novel é bastante nichado e enfrenta dificuldades para expandir sua base de jogadores, o que é uma pena, considerando as histórias incríveis e os universos fascinantes que ele oferece. Infelizmente, The Hundred Line: Last Defense Academy não consegue se desvencilhar completamente dessas limitações.
Para aqueles que estão experimentando o gênero pela primeira vez, o jogo é quase inteiramente focado em diálogos e na narrativa. O jogador participa do desenvolvimento da história, interage com outros personagens, cria vínculos e mergulha na imersão que o jogo busca proporcionar. Por isso, há uma clara diferença no investimento em outros aspectos, como animações fora das cutscenes, sistema de combate, entre outros.
Os diálogos trazem dinamismo ao permitir que o jogador influencie o rumo da história por meio de escolhas. Contudo, como mencionado, o jogo sofre com repetições e falas irrelevantes que quebram o ritmo. Essa sensação é especialmente evidente no início, quando o ritmo é mais lento devido à introdução do contexto — justamente o momento em que o jogo mais precisa captar a atenção do jogador.

Buscando se diferenciar de uma visual novel convencional, The Hundred Line: Last Defense Academy incorpora batalhas táticas para adicionar profundidade. No entanto, o sistema de combate, que deveria remeter a TRPGs, acaba se assemelhando mais a um desafio de eliminação de hordas. Há também elementos de tower defense, já que a maioria das batalhas envolve proteger um objetivo. Apesar disso, o combate não deixa de ser interessante.
Basicamente, o jogo oferece um número de habilidades (ações) que podem ser executadas em cada turno. Diferentemente do convencional, um mesmo personagem pode realizar mais de uma ação na mesma rodada. Porém, após o uso inicial de uma habilidade, o personagem se cansa, e sua movimentação é reduzida até o fim do turno. Caso o jogador não utilize todos os pontos de ação em um turno, os restantes são transferidos para o próximo.
Cada habilidade usada contribui para encher uma barra de especial compartilhada pelo grupo. Ao atingir 100%, o jogador pode optar por desferir um ataque poderoso ou aplicar um buff em uma de suas unidades.
Como esperado, cada personagem possui habilidades (ativas e passivas) distintas, destinadas a funções específicas, assim como “limpar” áreas diferentes do campo de batalha. Compreender o papel de cada personagem é essencial para derrotar hordas e chefes sem grandes dificuldades. Ao derrotar um comandante inimigo, há a chance de executar um Finishing Blow, encerrando a vida do adversário sem piedade. O personagem que realiza o golpe final recebe um aumento em seus atributos.
O jogo não oferece opções de dificuldade, o que pode fazer com que jogadores mais experientes em combates desse estilo considerem o jogo fácil demais.

Fora do combate, o jogo apresenta um sistema de tempo livre, no qual o jogador pode participar de atividades seja individuais, seja com colegas, conhecendo-os melhor e aprimorando atributos específicos, dependendo do personagem escolhido. Esses atributos são utilizados ao longo do jogo.
Além disso, há uma mecânica de persuasão para convencer personagens a seguirem as decisões do protagonista, avançando a história. Essa mecânica é simples até demais: o jogador seleciona a opção de diálogo correta; se errar, o diálogo apenas recomeça.
Conforme o jogo avança, novas instalações surgem na escola, e mais opções de interação social se tornam disponíveis. Uma parte significativa do progresso depende da exploração.

A exploração consiste em expedições nas misteriosas terras além das chamas roxas. Durante essas expedições, o jogo adota um formato de tabuleiro, com casas que desencadeiam eventos variados, dependendo de onde o jogador cai. Para se mover, o jogador escolhe quantas casas deseja avançar. Em alguns casos, é necessário cair em casas específicas, o que exige planejamento. Surpreendentemente, a exploração é fluida, os eventos das casas são divertidos, e o tabuleiro mantém o jogador entretido.
Em relação ao desempenho do jogo, ele é estável e não apresenta quedas notáveis no FPS.
Dicas do Dudu:
- Leia as habilidades de cada personagem, especialmente as passivas, para saber como utilizá-lo com o máximo de seu potencial.
- O Free Time não exige um gerenciamento de tempo como em Persona. Sinta-se livre para fazer o que desejar durante esse período.
- Diferentes atributos serão exigidos ao longo do jogo, portanto, não passe todo o seu tempo livre sempre com o mesmo personagem.
- Os personagens são imortais, e suas mortes podem e devem ser usadas a seu favor em batalhas, já que a barra de especial se enche quando alguém morre. Além disso, quando estão com pouco HP, os personagens podem desferir um golpe poderoso antes de saírem da batalha. Use e abuse desse sistema de mortes.
- Assim como as mortes, perder um pouco de HP no objetivo que você está defendendo em batalha pode ser vantajoso. Busque sempre eliminar os inimigos de maneira eficaz.
Conclusão

Existem duas situações aqui.
Para aqueles inseridos no nicho das visual novels: O jogo é fantástico e entrega tudo o que você espera de uma visual novel. Personagens carismáticos que se destacam, cutscenes de tirar o fôlego, uma narrativa envolvente, elementos de outros gêneros que enriquecem e trazem profundidade à experiência predominantemente social, além de personalidade e mistério, com uma pitada de bizarrice. O início pode parecer denso, mas, conforme a trama se desenvolve, a história fica mais fluida e fácil de acompanhar. Os personagens interagem mais, novos mistérios surgem junto com novas possibilidades, e tudo isso prende sua atenção de forma sutil. Recomendo.
Para aqueles que não estão inseridos no nicho das visual novels: Se você está curioso para experimentar algo novo, este jogo pode não ser a melhor escolha. Passar de cutscenes impressionantes para um jogo com poucas animações pode ser um choque inesperado. O título possui, naturalmente, uma quantidade expressiva de diálogos, superando até jogos como Persona, por exemplo. Combinando isso com o ritmo inicial lento, a experiência pode se tornar maçante e densa. O combate é simples demais para justificar o preço do jogo apenas por ele. Os personagens são excessivamente caricatos e carregados no estilo anime, algo que exige familiaridade prévia do jogador. Provavelmente, você acharia que a história daria um ótimo anime, mas é uma pena que esteja restrita a um jogo de “pular diálogos”. Não recomendo.

The Hundred Line: Last Defense AcademyVereditoO jogo é uma visual novel que encanta os fãs do gênero com personagens carismáticos, cutscenes impressionantes, narrativa envolvente e elementos de outros gêneros que adicionam profundidade, mistério e um toque de bizarrice, apesar de um início denso que se torna mais fluido e cativante com o tempo; porém, para quem não está familiarizado com visual novels, a experiência pode ser decepcionante devido ao ritmo lento, excesso de diálogos, animações limitadas, combate simplista e personagens caricatos no estilo anime, tornando o jogo pouco recomendável para novatos, que talvez preferissem a história como um anime em vez de um jogo. Design75Trilha Sonora95Diversão75Gameplay65Custo x Benefício60Reader Rating0 Votes0PrósÓtima narrativaPersonagens que se destacamCutscenes lindas e trilha sonora impecávelContrasMuito nichadoInício lento com diálogos repetitivosMecânicas que poderiam ser melhor aproveitadasNão possui localização em PT-BR74Nota Final{"@context": "http://schema.org/", "@type": "Organization", "name": "The Hundred Line: Last Defense Academy","image": [ "https://projectn.com.br/wp-content/uploads/2025/05/Reviews-4.png" ],"review": { "@type": "Review", "reviewRating": { "@type": "Rating", "worstRating": "0", "ratingValue": "74", "bestRating": "100" }, "author": { "@type": "Person", "name": "Dudu Cavagnari" } }}Veredict
The game is a visual novel that captivates fans of the genre with charismatic characters, stunning cutscenes, an engaging narrative, and elements from other genres that add depth, mystery, and a touch of weirdness, despite a dense start that becomes smoother and more captivating over time; however, for those unfamiliar with visual novels, the experience can be disappointing due to the slow pace, excessive dialogue, limited animations, simplistic combat, and caricatured anime-style characters, making the game less recommendable for newcomers, who might prefer the story as an anime rather than a game.
Nota do Editor: The Hundred Line: Last Defense Academy foi analisado em um Nintendo Switch. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela XSEED Games para avaliação.]