Review | The Hundred Line -Last Defense Academy-
Desenvolvedora: TooKyo Games, Media.Vision
Publicadora: XSEED Games, Aniplex
Gênero: RPG estratégico narrativo
Data de lançamento: 24 de abril de 2025
Preço: R$ 249,95
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela XSEED Games.
Revisão: Davi Dumont Farace
Vindo de um fã antigo da franquia Danganronpa e mais recentemente de Master Detective Archives: RAIN CODE, The Hundred Line -Last Defense Academy- era o jogo mais esperado do ano até o momento para mim.
Como já disse na minha preview, o jogo começou com uma entrada forte e me encantou com todas suas ideias e conceitos providos por Kazutaka Kodaka e Kotaro Uchikoshi. Vamos então repassar tudo que essa experiência magnífica traz para a mesa e como ela lidou com cada um dos aspectos.
Turma do Barulho
Não é novidade que o prato principal dos jogos do Kodaka são seus personagens carregados de carisma, e em The Hundred Line -Last Defense Academy- eles não desapontaram nem um pouquinho.
Com um início forte na dinâmica de grupo, essa narrativa não é banal ou repetitiva. Eu particularmente imaginei que teríamos uma progressão bem mais padrão e formulaica nas resoluções dos conflitos individuais ou coletivos, mas muito pelo contrário: o jogo, que é razoavelmente longo, toma seu tempo e sua abordagem para cada personagem e história.

No início, temos um grupo de estudantes que se veem na posição de ter que lutar para salvar o mundo. Com uma escrita primorosa e abordando temas que vão do abandono sistêmico até o ceticismo, Hundred Line apresenta um peso muito maior que o normal para a individualidade e o motivo para lutar de cada um dos personagens, ou para não lutar.
E embora as coisas ainda tenham que se resolver por ações do nosso protagonista —Takumi Sumino — e interações com o grupo, nada parece pouco natural. Tudo tem direito a seu tempo e funciona muito bem em um ritmo bem feito. O protagonista, no entanto, é um dos pontos altos dessa aventura também.
Acho bastante interessante o quão, embora Takumi acabe precisando resolver diversas coisas, ele passa bem longe de um líder típico, e acho bastante interessante ver como ele vai e volta nas ideias e como vez ou outra permite que suas prioridades pessoais atrapalhem seu papel como líder, isso é, alguém com obrigações de decidir de forma bem indireta, já que ativamente rejeita essa posição. Não só bem caracterizados narrativamente, mas os personagens também são diversos e interessantes como unidades.
A guerra mental
Para além dos aspectos narrativos, The Hundred Line conta com um combate completo e interessante, trazendo um sistema de batalha de RPG tático que mais se assemelha a um puzzle, porém, ainda é bastante refrescante.

Cada personagem começa com um conjunto de habilidades que, apesar de alguns efeitos adicionais, se assemelham a peças de xadrez por assim dizer. Com uma forma específica de movimentação e um ângulo e alcance de ataque, o jogo começa com combates mais simples com uma solução otimizada específica e expande em leque nas possibilidades com o passar do tempo.

Para mover com os personagens, o jogador deve gastar seus pontos de ação, que são concedidos no começo do turno. Cada personagem pode atacar quantas vezes o jogador desejar. No entanto, a partir do segundo ataque consecutivo, a movimentação do personagem — que sempre acompanha cada golpe — é reduzida. Ou seja, o personagem se move menos ao atacar novamente em sequência.
Então com os personagens certos e se aproveitando da movimentação inicial, o jogador deve planejar como conseguir o máximo de pontos de ação para eliminar a maior horda possível. Além disso, cada personagem possui uma “habilidade suprema”; essa deve ser usada após uma barra de porcentagem ser preenchida, sendo que atacar e receber ataques a aumenta. Quando ela chega a 100, o jogador pode optar por trocar uma barra por um ataque poderoso que inutiliza a tropa no próximo turno, por um buff específico, ou até por mais ações.

Inclusive, o jogador pode acumular até 3 barras e enche uma automaticamente caso algum aliado seja abatido, o que não tem consequências para a história; então pode e deve até mesmo ser usado como artifício. A derrota também normalmente não vem através de aliados abatidos, mas sim, da destruição da barreira da escola.
Como o jogador só perde caso ela chegue a zero, a longa vida da barreira pode também ser usada como recurso para eliminar tropas pequenas que morrem ao chegar nela, causando dano. O ponto é você entender como coordenar da melhor maneira os diversos tipos de recurso que estão a disposição e forçar com criatividade os limites do sistema de combate.

Vale lembrar que The Hundred Line não é extremamente difícil, então àqueles menos habituados com o gênero não devem encontrar dificuldades para se acostumar aqui, assim como veteranos ainda sentirão cosquinhas no cérebro dada a natureza estratégica da jogabilidade.
Salas de aulas, corredores, ginásio e sala de guerra
A ambientação e os visuais de The Hundred falam por si só. Com o design de personagens sendo a cereja do bolo, o jogo todo é do nível do melhor que essa família de jogos já ofereceu.
A escola hiper estilizada é instigante e está em constante evolução. A música combina em todos os momentos desde os mais tensos, até os mais alegres, e as animações de combate nunca perdem a majestade mesmo que muitas vezes sejam bastante simples.

Quanto a dublagem, eu testei as vozes tanto em japonês quanto em inglês e considero os dois elencos muito capazes e funcionais, e embora tenha me acostumado em ambas as versões, devo dizer que o mascote do jogo ficou melhor em inglês para mim por incrível que pareça, embora para o resto do cast seja mais controverso. Isso dito, eu sou particularmente bastante partidário de não só escutar as vozes como indicadores de tom, mas sim entender o que está sendo dito sempre que possível, então no fim fica a critério do jogador pois ambas as dublagens são excelentes.
As músicas dessa entrada trazem uma mistura de futurismo com mistério que é simplesmente muito adequado e bem executado, e possuem até mais energia que muitas outras da icônica trilha sonora de Danganronpa, o que combina com o tom mais de ação da entrada.
—Mas nem só de ação vive The Hundred Line.
O dia a dia colegial
Além de batalhar devemos usar nosso tempo para aperfeiçoar nossa vida escolar, seja para estreitar os laços da juventude com nossos colegas, aperfeiçoar nossas habilidades e táticas de guerra, ou explorar o mundo lá fora. Para isso, Hundred Line conta com uma progressão do clássico sistema de free time, onde o jogador pode passar um tempo com algum personagem, o que resultará em melhoria de stats, fazer uma jornada em um tabuleiro que o levará a coletar recursos, ou praticar combate em simulações de batalha.

Embora um bom equilíbrio de tempo seja vantajoso para o jogador, eu não diria que esse é um jogo de gerenciamento de tempo per se, nem se compara à necessidade de se planejar de jogos como Persona, ou Fire Emblem: Three Houses por exemplo. Aqui esses dias servem como estofo da grande história sendo contada. Tanto que até mesmo os momentos que você divide com seus amigos são mais perto de curtas e pequenas trivias que vão te dar informações aleatórias sobre os personagens, do que de fato longas exposições ou um arco narrativo do personagem em questão.
Mas nada disso é um problema ou deixa a desejar, pelo contrário, seria o tipo de coisa que deixaria a experiência um pouco mais lenta, e eu não sinto que esse jogo sobrecarrega o jogador com cenas extremamente longas ou paredes intermináveis de diálogo, pois mesmo sem fazer isso ele já tem uma quantidade de leitura impressionante, então por uma questão de ritmo só posso imaginar que mantiveram essas interações sucintas, uma decisão que não vejo como criticar. Já por esse lado social, temos momentos onde Takumi entrará em acalorados debates com os outros alunos, que se utilizam de uma mecânica de discussão que é okay, mas poderia ser melhor.

Não como foco mas como complemento, essa mecânica é bastante esvaziada. Como basicamente tudo na história é linear, o jogador não pode perder, a dificuldade também não é alta, nem na lógica, nem na jogabilidade e nem sequer é um mini game complexo; para mim de certa forma ele parece uma oportunidade perdida.
Venham se formar na última defesa da humanidade
The Hundred Line -Last Defense Academy- é um jogo que facilmente alcançou minhas expectativas. Ele é um excelente RPG estratégico, com uma história fora da curva onde o mistério espera a cada esquina. É principalmente um jogo que se comunica com seu público alvo. Por diversas vezes eu levantei uma hipótese comigo mesmo que o jogo levantou logo em seguida e por diversas vezes ele quebrou minhas expectativas, mostrando um nível de diálogo com o jogador bastante primoroso.

Foi realmente impressionante ver a maestria dos escritores de manter alguns desses mistérios interessantes e misteriosos do começo ao fim do jogo, que foi uma jornada repleta de momentos icônicos e emocionantes. É bem fácil também recomendá-lo como o jogo de SRPG que ele é: o loop de gameplay é bastante viciante e acomoda com maestria a história mais densa.
Ademais, The Hundred Line -Last Defense Academy- é um jogo de fácil recomendação para veteranos e novatos, que tenham tido o interesse despertado e não deve nada para seus irmãos mais velhos Danganronpa e Master Detective Archives: RAIN CODE.
Pros:
- Combate divertido e engajante que recompensa seu pensamento;
- História bem escrita e engajante;
- Cast de personagens muito carismático, como de praxe nos trabalhos de Kazutaka Kodaka.
Contras:
- Jogo não possui uma dificuldade maior e não oferece grandes desafios.
- Mecanica de debate foi sub explorada.
Nota
9,5
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