Review | The Hungry Lamb: Travelling in the Late Ming Dynasty

5 horas atrás • Nintendo Boy • Via CoelhoNews.com: Seu agregador de notícias Nintendo

Desenvolvedora: Zerocreation Games
Publicadora: 2P Games
Gênero: Visual Novel sombria
Data de lançamento: 13 de março de 2025
Preço: R$ 70,00
Formato: Digital

Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela 2P Games.

Revisão: Paulo Cézar

Desenvolvido pela Zerocreation Games e publicado pela 2P Games, The Hungry Lamb: Travelling the Late Ming Dynasty é uma visual novel chinesa que como título indica, se passa no final da dinastia Ming, um período da história da China marcado por muita pobreza.

Ovelhas famintas

O inicio da dinastia Ming marca um crescimento populacional muito grande na história do país, chegando a dobrar a população, o período também marca um período onde o comercio maritimo com países europeus se fez bastante presente, fatos que são retratados na obra. a história de The Hungry Lamb foca no final desse período, onde a economia se encontra bastante fragilizada pela mudança climática que causou danos enormes a agricultura juntamente com calamidades naturais e epidemias que assolavam o país.

Desta forma, The Hungry Lamb inevitavelmente acaba esbarrando não acidentalmente em tópicos extremamente pesados. É um jogo sobre miséria, fome, morte, trauma, e os absurdos que pessoas podem fazer para sobreviver, incluindo canibalismo e tráfico humano – estes últimos sendo bastante presentes no decorrer da obra. Todo esse contexto histórico é importante para a compreensão da narrativa, visto que o jogo não dá muita explicação do que se trata de fato a dinastia Ming e o porquê de tanto sofrimento rodeando todo o elenco de personagens presente no jogo.

A história tem como protagonista um homem chamado Liang, que juntamente com o seu parceiro de crime apelidado de Tongue (língua em inglês), recebem um trabalho de escoltar algumas garotas que supostamente foram vendidas pelas suas famílias por estarem sofrendo com dificuldades financeiras. A principio, na história vemos todos os ocorridos a partir dos olhos de Liang, acompanhando seus pensamentos e visões a cerca de tudo o que acontece ao seu redor juntamente com o seu parceiro Tongue.

A partir do momento em que ambos aceitam esse serviço que se configura basicamente como uma forma de tráfico humano, somos apresentados a Hong’er, Cui’er, Qiong Hua e uma garota muda, que a principio não tem nenhum nome conhecido. E assim se dá a dinâmica entre os personagens, quatro garotas de origem de origens tanto pobres quanto mais ricas que estão a mercê de dois bandidos capazes de fazer aparentemente qualquer coisa por dinheiro.

Ao contrário de Tongue, Liang possui uma opinião um pouco menos pragmática da situação toda. Enquanto Tongue enxerga toda a situação como uma grande oportunidade de conseguir dinheiro relativamente fácil, fornecendo serviços sujos para uma espécie de figurão rico com gostos excêntricos; Liang ainda é um pouco relutante e não vê a situação toda com bons olhos, apesar de o mesmo possuir um aparente ceticismo a respeito da sua própria moralidade, afinal, todos estão passando por um período extremamente difícil e precisam fazer o que é preciso para sobreviver.

O que fazemos para sobreviver

A história tem a sua primeira reviravolta logo nos primeiros três capítulos da VN, onde Liang acaba descobrindo a verdade por trás da garota muda e a sua relação aos poucos vai se desenvolvendo lentamente a partir disso. Em certos momentos também vão sendo desbloqueados capítulos dedicados a contar a história da garota muda além dos 15 capítulos da história principal, passando pela sua infância até o momento em que sua vida começou a ficar extremamente difícil para a sua família, chegando até o momento em que a história começa.

Algo que se pode dizer a respeito da história de The Hungry Lamb é que o jogo possui uma escrita bem fluída. O jogo no geral não é muito longo, podendo ser terminado em cerca de 8 a 10 horas de jogo, variando muito dependendo do ritmo de leitura de cada um. No entanto, vale ressaltar que o jogo de forma alguma parece corrido dada a curta duração, a VN ainda assim, busca sempre entregar momentos de respiro e desenvolve a relação entre os personagens com bastante cuidado, além de utilizar de recursos narrativos como foreshadowings e flashbacks.

Outra coisa admirável em The Hungry Lamb, definitivamente não pega a rota mais fácil para fazer com que os personagens centrais sejam gostáveis, afinal estamos falando de bandidos que estão dispostos a traficar humanos. No entanto, ver o mundo sobre os olhos de Liang também é muito interessante, muito devido aos seus pontos de vistas e reflexões sobre os assuntos e acontecimentos de sua jornada. Ainda assim, o jogo não busca suavizar nem justificar as ações horríveis dos personagens, desta forma, o modo como esses temas são abordados acaba sendo um ponto alto da visual novel.

Sonhos e desilusões

A arte de The Hungry Lamb também é um ponto alto do jogo ainda que com algumas ressalvas. Com um estilo simples, uma pintura não muito renderizada, onde se pode ver as pinceladas nas pinturas dos cenários e roupas dos personagens, o jogo entrega visuais lindos que combinam bastante com a temática e ambientação do jogo. The Hungry Lamb, também altera bastante o estilo de arte entre os capítulos de flashback e os que acontecem na linha do tempo regular da história. Os flashbacks possuem uma arte bem mais rudimentar, remetendo diretamente a um pedaço de pergaminho com desenhos simples feitos em tinta preta, esses momentos também são marcados por possuírem ângulos de câmera e cenas mais complexas do que os típicos diálogos de visual novel com retratos estáticos e texto em baixo da tela como é comum também nos capítulos regulares do jogo.

O jogo acaba tropeçando, no entanto, na hora de mostrar um pouco mais de variedade nos cenários. Boa parte da história acontece em áreas florestais, estradas entre uma vila e outra. Estradas e casas que eram para ser significativamente diferentes entre si utilizam as mesmas ilustrações e acabam criando uma sensação de que aqueles personagens estão eternamente presos no mesmo lugar.

A música do jogo também é um ponto a se destacar a pesar de aparecer somente em momentos específicos e assim como as ilustrações dos cenários, sem muita variedade. Os momentos em que a música brilha são nos momentos mais tristes do jogo, e não é muito mais do que isso que a trilha sonora oferece, apesar de serem sempre muito marcantes e de partir de coração.

A interface de The Hungry Lamb é um tanto diferente do convencional. O jogo apresenta uma série de ícones no canto inferior direito da tela que pode ser navegado através do analógico esquerdo do controle. Cada um desses ícones representa as opções de salvar, carregar um save, ativar o modo automático para avançar o texto, pular o texto rapidamente, mostrar diálogos anteriores, configurações, fechar a caixa de texto e também mostrar o flowchart.

Essa configuração de layout pode parecer um tanto confusa de inicio, considerando que para que esses menus sejam acessíveis o jogo utiliza o botão A para confirmar essas opções que estão o tempo inteiro disponíveis na tela, enquanto o botão Y é utilizado para avançar o diálogo, o que pode causar uma certa estranheza nos primeiros momentos do jogo. Outra coisa interessante da interface de The Hungry Lamb, é a presença de um flowchart, que detalha todas as bifurcações que podem ocorrer na história considerando as decisões do jogador em uma linha do tempo que é bem intuitiva de se ler.

O caminho de toda a carne

The Hungry Lamb é um jogo pesado, um retrato de um período histórico desolador, e sem muitos freios na hora de retratar a cruel realidade da época. Naturalmente, isso faz com que o jogo não seja para todo mundo, afinal, requer um coração muito forte para aguentar a dureza dos temas abordados pela história no geral. No entanto, o jogo vale o esforço mental, existe uma mensagem bela no jogo que é passada através de uma escrita excelente, com um ritmo agradável de leitura.