Review | Hashihime of the Old Book Town Append

1 semana atrás • Nintendo Boy • Via CoelhoNews.com: Seu agregador de notícias Nintendo
Desenvolvedora: ADELTA
Publicadora: HuneX
Gênero: Visual Novel, BL (Boys Love)
Data de lançamento: 16 de dezembro, 2021
Preço: R$ 333,97
Formato: Digital

Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela HuneX.

Revisão: Davi Dumont Farace

Hashihime of the Old Book Town Append é uma visual novel dos gêneros mistério, terror e boys-love. O título foi desenvolvido pela desenvolvedora indie ADELTA e publicado em inglês pela HuneX em 2021 para Nintendo Switch, tendo previamente lançado uma versão para PC do título que continha cenas de sexo explicitas. A versão para Switch também possui um prólogo ao final de cada rota que relata o que aconteceu com os personagens após o término da história.

Amores e desconstruções

A obra se passa no ano de 1922, na era Taisho do Japão imperial. A VN é centrada majoritariamente em Jinbocho, um distrito de Tóquio que é popularmente conhecido pela quantidade de editoras, lojas de livros usados e antiguidades.

Trata-se de uma visual novel cinética, isto é, consiste majoritariamente em avançar diálogos onde o jogador não possui muita agência. Apesar disso, o título possui momentos pontuais em que o jogador deve tomar uma decisão que ditará a rota que será seguida a partir daquele momento. Vale ressaltar que as rotas alternativas só são acessíveis após o término da primeira rota que não possui decisões ou narrativas que se bifurcam.

Em outras visual novels BL, o jogador assume a pele de um protagonista “self-insert”, que costumam ser personagens que tiveram suas individualidades sacrificadas em prol da criação de um personagem que sirva como uma espécie de elo entre o jogo e o jogador, que por sua vez deve tomar decisões para chegar até o romance com o personagem desejado. Sendo assim, Hashihime subverte o gênero tirando a agência do jogador em prol de construir uma narrativa onde o protagonista é central e passa por um longo período de desenvolvimento.

Hashihime também atua como um recorte histórico do Japão na era Taisho. Na VN, existem muitas referências literárias curiosas, como o fato de que antigamente livros estrangeiros eram publicados no Japão com uma localização que ajudava a trazer os títulos para um contexto mais próximo do país, mudando até o nome dos autores e personagens. Para leitores que não são muito familiarizados com o contexto histórico japonês na era Taisho, a VN também faz um bom trabalho em contextualizar referências históricas e literárias com um glossário que explica termos, referências a lugares reais e referências históricas.

Realidade, fantasia e delírio

A história de Hashihime of the Old Book Town se resolve ao redor de Tamamori, um jovem aspirante a escritor que sofre de alucinações constantes, muitas vezes resultante de sua imaginação fértil para criar histórias.

Anteriormente ao início da história, Tamamori e seus amigos de infância Kawase e Minakami tinham como ambição estudar na Universidade Imperial de Tóquio. No entanto, Tamamori acabou sendo o único a não ser aprovado nos exames de admissão, fazendo com que fosse expulso da casa onde vivia. Por sorte, o rapaz acaba conseguindo abrigo em uma livraria chamada Umebashidou, onde só precisa trabalhar em dias de chuva em troca de comida e abrigo.

Apesar da generosidade do misterioso dono da loja, Tamamori desperdiça o seu tempo vivendo uma vida boêmia, passando a maior parte do seu tempo saindo com seus amigos e escrevendo histórias enquanto finge estar estudando para os vestibulares. O mistério da visual novel começa quando os amigos de Tamamori acabam se envolvendo em supostos assassinatos que o rapaz acredita que tenha o envolvimento de uma lenda urbana local que consiste em um homem gigante que anda pelas ruas noturnas cometendo os crimes. Posteriormente, Tamamori acaba entrando em um loop temporal de forma misteriosa, onde revive os acontecimentos dos últimos três dias para tentar resgatar os seus amigos de um fatídico fim.

Apesar da premissa aparentemente batida de loop temporal, Hashihime of the Old Book Town contorna o clichê e usa esse tipo de história como um artifício narrativo para explorar a psique dos personagens focando no protagonista. A VN funciona quase que como um estudo de personagens muito bem executado, onde a autora mostra que conhece e sabe escrevê-los muito bem, introduzindo-os às mais diversas situações e diálogos que provocam reações e trazem consequências para a vida de cada um deles em diferentes linhas temporais, sem descaracterizá-los em momento algum.

O fato de Tamamori sofrer com constantes alucinações também serve para agravar ainda mais o mistério, fazendo com que o leitor constantemente questione a veracidade do que está acontecendo, visto que o jogo acontece majoritariamente a partir do ponto de vista do próprio Tamamori. Este aspecto abre brecha para a discussão sobre individualidade e a relação que humanos possuem com ficção, visto que Tamamori é um escritor com uma imaginação fértil. Cada aspecto da narrativa de Hashihime é eficientemente utilizado para servir às temáticas escolhidas a serem desenvolvidas.

Arte, psicodelia e contrastes

Outra característica de Hashihime of the Old Book Town que foi abordada com maestria é o aspecto psicodélico da obra. Apesar de possuir arte, interface e visuais simples, o título chama a atenção por momentos em que as CGs retratam os delírios e fantasias de Tamamori. Estes momentos são caracterizados por cores saturadas, padrões e formas coloridas de encher os olhos que fazem um contraste muito forte com o mundano, também representado eficientemente apesar da simplicidade. No geral, a arte presente na obra é sólida e serve ao seu propósito.

Hashihime apresenta uma gama de faixas musicais um tanto quanto limitada. No entanto, cada música consegue servir muito bem a cada situação, por mais que sejam reutilizadas muitas vezes, além de se encaixarem bem com a ambientação e o período histórico em que a história se passa. As músicas variam de um jazz ambiente até faixas mais energéticas e etéreas para os momentos de suspense e tensão.

A dublagem dos personagens também é um ponto a se ressaltar na obra. Todos os personagens são muito bem atuados e refletem a personalidade que o texto tenta passar muito bem. Tamamori tem uma voz particularmente característica que se encaixa muito bem com a sua personalidade excêntrica e desajeitada.

Passado, presente e futuro

Hashihime não economiza tempo algum enquanto desenvolve os personagens. Antes mesmo do mistério começar a fazer parte da história, o jogo cuidadosamente apresenta cada um dos personagens e dá contexto para a forma de agir e pensar de cada um deles enquanto estabelece a relação entre os mesmos. Hashihime não possui um elenco muito grande de personagens e isso acaba fazendo muito bem a história.

Como um toque de mestre, o título introduz Tamamori juntamente a Kawase, um ser humano que pode ser tão desprezível e muitas vezes até pior do que o próprio protagonista. Kawase constantemente trata Tamamori com desdém, age como se tivesse nojo dele e faz pouco caso das histórias que o rapaz escreve, tratando-as como lixo descartável de qualidade duvidosa.

No entanto, o contraste entre os dois personagens faz muito bem para o estabelecimento de Tamamori como a figura de um rapaz que é de certa forma solitário, sem talento e possivelmente sem futuro, e que por algum motivo se agarra a amizades tóxicas e péssimos hábitos que não o levarão a lugar algum.

Em contrapartida temos Minakami, que juntamente com Kawase frequenta a universidade imperial. Pode-se observar em Minakami o retrato de uma pessoa gentil, reservada e que nutre uma paixão por literatura inacreditável, tendo lido todo o catálogo disponível na loja onde Tamamori trabalha. Minakami também possui bastante carinho por seus amigos de infância, especialmente Tamamori, sendo o maior apoiador e admirador de seu trabalho como escritor.

Hashihime não pega o caminho mais fácil para construir os seus personagens e torná-los simpatizáveis. Logo de cara é possível observar como a maior parte do elenco pode ser interpretado como sendo pessoas de caráter duvidoso, incluindo o próprio protagonista. Tamamori não chega nem perto de ser o típico personagem “self-insert” que muitas obras do gênero costumam aderir para seus personagens principais. No fim das contas, o que existe em Hashihime é um protagonista repleto de falhas humanas que fazem com que odiá-lo seja o caminho mais intuitivo a se seguir.

No entanto, conforme a história se desenrola, vemos que nem tudo sobre esses personagens é o que aparenta ser de fato. As características de cada personagem vão sendo individualmente exploradas enquanto o caráter de cada um é botado à prova juntamente com o questionamento acerca do motivo que dirige suas tomadas de decisões. No fim das contas, as falhas, receios e angústias de Tamamori e seus possíveis interesses amorosos são o que fazem esses personagens interessantes e simpatizáveis.

Cada uma das rotas é focada em um dos seus amigos e possíveis interesses amorosos, e conforme o desenrolar da história, esses sentimentos vão se alinhando organicamente em direção a personagem x ou y. No geral, Hashihime of the Old Book Town Append também lida muito bem com narrativas que se bifurcam fazendo com que todas as rotas sejam interessantes por si só, também devido ao fato de os personagens serem muito bem escritos.

Passar por todas as rotas não é nem de longe algo necessário a se fazer, porém as pessoas que se sentiram cativadas o suficiente pela história serão capazes de engajar com a VN por algumas horas a mais, explorando as rotas seguintes. A segunda rota consegue ser tão bem escrita quanto a primeira e oferece desenvolvimento e construção de personagens o suficiente para justificar uma segunda jogada. As demais rotas, até pela duração reduzida, não são tão bem escritas quanto as duas primeiras, mas oferecem finais alternativos interessantes que valem a pena ser explorados.

Um clássico cult de excelência narrativa

Hashihime não é apenas uma história de amor e mistério. O título brilhantemente faz uso do seu aspecto fantasioso para desenvolver personagens de uma maneira única, utilizando o máximo de artifícios possíveis da mídia para contar uma história de amor sensível.

Desta forma, Hashihime of the Old Book Town Append torna-se sem dúvidas uma gema escondida dentre o catálogo de visual novels disponíveis no Nintendo Switch. A obra com certeza se prova à altura do apelo cult, se tornando um título merecedor de uma chance para apreciadores de uma boa história de viagem no tempo, mistério ou romance.

Prós:

  • Personagens bem desenvolvidos;
  • Visuais marcantes apesar da simplicidade;
  • Musicas igualmente marcantes;
  • História cativante e bem escrita.

Contras:

  • As demais rotas não são tão boas quanto as duas primeiras.

Nota:

10

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